Juan Gérvas;
Mercedes Pérez Fernández
Equipo CESCA, Escuela Nacional de Sanidad
Madrid, España
* Este texto se baseia na apresentação de Gérvas no “First Seminar of Primary Care”, ocorrido na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Brasil), 22 a 24 de março de 2006.
De certa forma, a antiga aspiração do Renascimento tem sua expressão médica atual na Atenção Primária. Não é uma representação perfeita, evidentemente, pois é impossível lograr a plenitude do ser humano, a polivalência, o domínio simultâneo das artes, as ciências e as humanidades. Porém o médico generalista – ou seja: o clínico geral, o médico de Atenção Primária - aspira, também, a um ideal impossível: dar resposta à 100% das demandas da população, e resolver por si mesmo mais de 90% das mesmas. Essa polivalência, essa capacidade de resposta, depende de múltiplos fatores. O principal, é que os próprios médicos generalistas aspiram à dita polivalência (o que, por sua vez, depende da formação na graduação e pós-graduação). Quando o clínico geral crê em si mesmo, ocorre uma “auto-exigência”, que implica em uma autoridade profissional, humana e científica, bem como uma responsabilidade social que levam à polivalência, à competência, e a à capacidade de respostas múltiplas. É fundamental que os clínicos gerais tenham claro que sua obrigação central é oferecer variados serviços profissionais personalizados, diagnósticos e técnicas terapêuticas que evitem o uso de outros serviços externos (que quando não são necessários podem ser excessivos e potencialmente danosos). As características clínicas básicas do clínico geral são o controle da incerteza, a coordenação de cuidados em pacientes com múltiplas enfermidades, e a especialização no que é “freqüente”. Na organização do sistema sanitário, o lógico é a concatenação de uma resposta escalonada, que conduza o paciente da comunidade ao hospital universitário passando pela Atenção Primária, de forma que a resposta médica seja apropriada às necessidades. O que se precisa é “alta qualidade com tecnologia apropriada, tão próxima do paciente quanto seja possível”.
O importante é conseguir prestar atenção clínica de alta qualidade - o que se pode conseguir com baixa ou alta tecnologia, no hospital, ambulatório ou na casa do paciente. Esse texto analisa os fatores chave na evolução atual da Atenção Primária. O objetivo é demonstrar que uma Atenção Primaria “forte” é conveniente r necessária para a sociedade, para o sistema sanitário e para os profissionais (clínicos gerais e especialistas), tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. Atenção Primária “forte” é aquela em que os clínicos gerais contam com o apreço social e profissional, tem uma formação à altura, são ativos em pesquisas, recebem uma remuneração adequada, tem auto-estima, e trabalham em um sistema sanitário que lhes protege da “competência selvagem dos especialistas”.
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