R- Eu acho que, diante desses anos todos como gestor de sistemas de saúde - como diretor do Hospital de Caridade, vice-diretor do Hospital Universitário, professor da Universidade Federal, Secretário de Estado e Secretário de várias funções no Ministério da Saúde -, o município é a maior escola de gestão que existe no sistema. Especialmente o nosso, que é tão descentralizado. A atuação do gestor na Secretaria Municipal de Saúde é muito mais complexa do que como gestor estadual ou nacional, porque ele está diretamente vinculado aos anseios da população, à escuta do que a população tem necessidade, e à garantia das vias de acesso ao sistema. O que não é fácil. Nós temos um sistema de saúde no Brasil com base na solidariedade, que é base de um princípio socialista; então, temos um sistema socialista dentro de um regime capitalista, o que é muito difícil. Grande parte dos produtos médicos e da medicina é privatizada, especialmente na Média e Alta Complexidade (MAC). E se a MAC não estiver sob o comando da Atenção Primária à Saúde (APS), que é principalmente pública, nós temos um fracasso do sistema.
P- Aproveitando que começou a falar na Atenção Primária, como é que o senhor vê o papel da APS na rede municipal de saúde?
R- Eu acho que Florianópolis acertou ao fazer da Atenção Primária o núcleo ordenador de todo o sistema de saúde do município. Derrubamos uma grande premissa que era vendida para todos nós, de que à medida que nós ampliássemos o acesso na APS, nós íamos explodir na Média e Alta Complexidade. Isso não é mais verdadeiro. Se a APS for a condutora da MAC, não há esse tipo de explosão. Por quê? Porque os problemas das pessoas estão sendo resolvidos, perto de suas casas, nas unidades básicas de saúde.
P- Em sua visão, quais são os principais desafios para consolidação da Atenção Primária, hoje, em Florianópolis e no Brasil?
R- O principal desafio é o financiamento. O Ministério da Saúde se afastou muito, e o estado também, em relação ao aporte de recursos para financiar a APS. Hoje a APS vive com no máximo 30% daquilo que é destinado à Atenção à Saúde dentro do SUS [em nível federal], ao contrário de Florianópolis, que destina quase 70% [dos recursos para a saúde] para a APS. E com isso todos nossos indicadores baixaram, alguns estão compatíveis com países de Primeiro Mundo. Esse é o grande desafio, o financeiro.
P- O senhor teria alguma consideração a fazer sobre o acesso e o acolhimento nas unidades?
R- Eu acho que nós estamos partindo para um tema que é muito falado e pouco realizado. Acolhimento não se restringe ao acolher, humanizar, atender bem. Eu tenho que me sentir, numa unidade de saúde, responsável; se houve um caso de sarampo, por exemplo, preciso saber por que ele escapou de minha atuação precoce ou de minha supervisão. Acolhimento também tem que ser visto como responsabilidade sanitária dentro das nossas unidades.
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