09/12/2010
Um dos jornais médicos mais respeitados do mundo publicou duas longas reportagens sobre a situação da saúde no Brasil. O British Medical Journal publicou na sua edição de segunda-feira, dia 29 de novembro, “Brazil’s Family Health Programme” e “Economic success threatens aspirations of Brazil’s public health system”. O primeiro explica um pouco da história do sistema público de saúde no Brasil e afirma no entre título que a experiência brasileira pode ensinar países com orçamento maior. A estratégia Saúde da Família é apontada como a principal responsável pela redução dos índices de mortalidade infantil, diabetes, derrame e redução nas internações hospitalares. “Mais de 75% das mulheres têm sete ou mais consultas pré-natal e a porcentagem de crianças com menos de um ano vacinadas contra diarreia, tétano e coqueluche é superior a 95% na maioria dos municípios. Até as metas do milênio que as Nações Unidas desejam atingir são menores que essas”, destaca o impresso.
O crescimento financeiro na estratégia foi o principal responsável pela expressiva melhora nos indicadores e na maneira que o país investe dinheiro para ter resultados consistentes. “Mas este sucesso não tem recebido o reconhecimento internacional que merece. O potencial da reforma na atenção à saúde, especificamente, a Estratégia Saúde da Família... em diversos aspectos a promessa foi superada, mas a história de sucesso da atenção primária à saúde brasileira continua muito incompreendida e não foi disseminada suficiente, ou traduzida em outros contextos”.
O texto segue apresentando aspectos do financiamento da saúde no Brasil e a ótima relação entre o investimento na atenção primária e a alta resolução das doenças. A estrutura brasileira, segundo o texto, tem muito a ensinar a todos os países, principalmente porque o investimento na saúde pública ainda é baixo em comparação aos países desenvolvidos. Para concluir, os autores dizem que a Inglaterra já tem uma longa história em política pública e que os Estados Unidos precisam repensar seu sistema, visto o alto custo e a baixa solução no atendimento à população, “eles (os EUA) deveriam aprender olhado o Brasil”.
A segunda reportagem começa destacando a queda recorde da mortalidade infantil no país, mas já no título vem o alerta “O sucesso econômico ameaça as aspirações do sistema público de saúde brasileiro”. O repórter descreve o relato da diferença entre o primeiro e o segundo parto de Maria Isabel Lourenço. A complicada primeira gestação, anterior ao Sistema Único de Saúde (SUS) e os elogios a atuação dos profissionais da saúde, no segundo, em tempos de Saúde da Família. “Depois de 1988 o acesso à saúde passa a ser um direito de todos, e tivemos de incorporar no mínimo a metade da população ao sistema de saúde que até aquele momento estava excluída”, relata o Ministro da Saúde José Gomes Temporão.
Apresentando dados consistentes sobre a atenção primária e o financiamento à saúde pública no Brasil, a segunda reportagem mostra o fenômeno único no mundo em relação aos investimentos no setor privado. “Estamos correndo o risco de uma ‘Americanização’ do nosso sistema, o que seria uma grande contradição aos avanços conquistados com a constituição de 1988” alerta o Ministro. O bom momento da economia e o crescimento da classe média esta contribuindo para reduzir os investimentos da saúde pública – que já é subfinanciada e está migrando para a iniciativa privada.
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